A qualidade dos insumos, sua entrega no prazo adequado e a garantia de que eles atendem os requisitos pré-estabelecidos pela construtora são fatores fundamentais para o bom desempenho no processo executivo. Por isso, a área de compras ocupa uma função-chave na empresa, assegurando todos os elos da cadeia de suprimentos.
Os compradores só serão capazes de se certificar de que todos esses parâmetros serão respeitados pelas empresas selecionadas se forem estabelecidos processos de qualificação e avaliação de fornecedores, baseados nos requisitos institucionalmente determinados pela construtora, em boas práticas de mercado e em critérios pré-estabelecidos por órgãos reguladores e de financiamento.
De maneira geral, preço, prazo e qualidade são os pilares de qualquer boa compra. Entretanto, cada um desses elementos funciona, na indústria da construção, como um verdadeiro guarda-chuva, pois inclui uma série de desdobramentos e variáveis que precisam ser definidas previamente pela área de compras.
Nem sempre as construtoras se atentam para esses itens – ou não consideram que eles tenham a mesma importância. É comum que as áreas de compras direcionem mais atenção para o preço, por vezes descuidando dos outros elementos. Por isso, a criação de uma metodologia de qualificação e avaliação de fornecedores é fundamental, já que determina que os diferentes componentes de valoração de uma compra sejam devidamente observados.
Qualificação de fornecedores
O primeiro passo do processo é determinar os critérios e formatar uma metodologia de qualificação dos fornecedores, conforme explica Ralph Montelo, diretor do Construpoint.
“A qualificação do fornecedor deve ocorrer antes da contratação, de forma a garantir alguns requisitos mínimos de documentação, qualificação técnica e garantia da qualidade nas entregas”, descreve.
Nessa etapa, são levantadas informações detalhadas sobre as práticas de mercado do fornecedor, o segmento em que atua e suas características institucionais.
“Trata-se de uma parceria de longa data. Por isso, preciso conhecer o fornecedor a fundo. Avaliamos sua saúde financeira, seu comportamento no mercado, os clientes que atende, o tamanho de seu negócio, suas práticas ambientais e se são empresas certificadas”, explica Ricardo Alcantarilha, gerente de compras e suprimentos da MBA Construtora.
Alcantarilha explica que, no caso de sua companhia, há uma dupla checagem na fase de qualificação, pois ela presta serviços para empresas estaduais que exigem alguns tipos de certificação.
O exame pode ser mais ou menos detalhado, dependendo das necessidades da construtora. Na Trisul, por exemplo, a qualificação envolve um processo abrangente, conforme explica a engenheira civil Caroline Lima, analista de qualidade na construtora.
“Avaliamos se o fornecedor tem sistema de qualidade certificado (como ISO 9001, PBQP ou outro). Além disso, realizamos três avaliações com clientes do fornecedor para verificar o atendimento, a qualidade dos serviços prestados e o prazo”, ela explica.
Quando necessário, também são feitas análises de currículo e verificação de amostra, do material aplicado ou do serviço executado em outras obras, de acordo com Caroline Lima.
Quando o fornecedor investe em qualidade – e, possivelmente, em certificações –, ele precisa contar com uma estrutura mais robusta, o que pode encarecer seus preços, explica Marcela Guimarães Frederico, gerente de compras da Sobrosa Construtora.
“O mesmo se aplica para o produto oferecido: se ele passou por um processo rígido de controle, foi necessário um investimento para que se atendesse às exigências”, acrescenta.
Em uma comparação simples de valores, tais fornecedores e insumos poderiam não ser selecionados pela área de compras, sendo preteridos por similares não certificados. Mas isso poderia acarretar riscos em relação à durabilidade e à segurança do material, descreve Frederico.
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Avaliação de fornecedores
Após a qualificação dos fornecedores, eles já passam a figurar no cadastro da área de compras, podendo ser consultados em eventuais cotações.
Entretanto, sua permanência entre os fornecedores da construtora não deve ser encarada como imutável. Ela depende de a empresa continuar atendendo os requisitos estabelecidos pela construtora e por seus clientes de maneira estável e duradoura.
Na Trisul, de acordo com Caroline Lima, todos os fornecedores passam por uma avaliação mensal, cujo objetivo é monitorar o bom andamento de suas práticas.
“No caso de fornecedores de material ou serviço, avaliamos com uma nota de 1 a 10 itens como prazo, atendimento, organização e limpeza, desperdício e qualidade”, descreve Lima.
Além disso, há a necessidade de estabelecer uma dinâmica de avaliação contínua dos insumos e dos serviços prestados em canteiro, de modo a assegurar a qualidade de cada item.
“Para cada tipo de material, existe a exigência de uma documentação do fornecedor e de destinação. Geralmente, tem-se uma ficha cadastral padrão para preenchimento com envio de licenças e dos documentos nela indicados”, descreve Marcela Guimarães Frederico.
Após o recebimento do material, os tópicos avaliados também são devidamente registrados, de acordo com os critérios previamente definidos pela construtora.
Segundo Frederico, quando se trata de prestação de serviços no canteiro, é fundamental avaliar uma série de documentos, incluindo guias de recolhimento de tributos e encargos trabalhistas previdenciários, comprovantes de pagamento de salários e benefícios conforme a legislação vigente e normas sindicais, e Certidão Negativa de Débitos Trabalhistas.
Gestão
O processo de avaliação de fornecedores gera uma variedade de informações muito grande, sendo necessário lançar mão de um sistema de gestão integrado ou plataforma que tenha funcionalidades específicas para a realização desse controle.
É comum que as construtoras façam esse registro em planilhas de Excel, por exemplo, o que inviabiliza um melhor controle da documentação envolvida no processo de avaliação. No caso de fornecedores antigos, principalmente, os registros das compras podem se extraviar ao longo do tempo, dificultando a devida prestação de informações em um processo de auditoria, por exemplo.
O Construcompras, que fornece uma solução integrada para o gerenciamento de todo o processo de compras em uma construtora, conta com um módulo de avaliação que permite a definição de critérios de satisfação e a avaliação da performance de cada fornecedor. Isso possibilita a criação de uma carteira personalizada de fornecedores, que podem ser acrescentados e excluídos continuamente.
Redação: Eduardo Campos Lima
Colaboração técnica:
Marcela Guimarães Frederico é Mestre em engenharia de energia pela Universidade Federal de Itajubá. Trabalhou em empresas como a PDG, Even e o Grupo Pacaembu. com ampla experiência em implantação da área de suprimentos. Atualmente, é gerente de compras na Sobrosa Construtora.
Ricardo Alcantarilha é administrador de empresas e foi gerente de compras e suprimentos da Usina CBB – Alda Participações e Agroindústria e supervisor de compras e suprimentos da Santa Vitória Açúcar e Álcool. É gerente de compras e suprimentos da MBA Construtora.
Caroline Lima é engenheira civil e trabalhou como auxiliar de controle de qualidade da construtora Pillaster e assistente de engenharia na ARC Engenharia e Construções. É analista de qualidade na Trisul.
Ralph Montelo, Diretor de Produtos da divisão Projetos e Obras da Construmarket. Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e com especialização em Transformação Digital, com 20 anos de experiência na área de TI, sendo 10 deles exclusivamente voltados para a inovação e plataformas para a Construção Civil.