Rastreabilidade do Concreto

Entenda como funciona, as etapas e a importância da rastreabilidade do concreto.
vários corpos de provas, um ao lado do outro, passando por etapa da rastreabilidade do concreto

O concreto é muito utilizado na construção civil para fazer fundações, baldrames e estruturas como torres, prédios e casas. Este material possui alta resistência mecânica e a desgastes, baixa necessidade de manutenção e, quando bem-feito, é quase impermeável. Além disso, é muito durável, se for de boa qualidade. Um dos fatores que garante tantos aspectos positivos é a rastreabilidade do concreto. 

São quatro os componentes principais do concreto: cimento, água, agregado graúdo (como brita e pedra) e agregado miúdo (basicamente, a areia). Na construção civil, é comum, ainda, acrescentar ao material alguns aditivos para, por exemplo, aumentar o seu tempo úmido e prolongar seu prazo de manipulação. Além disso, há adições de sílica ativa para garantir propriedades finais, como aumentar as resistências inicial e final e alterar a elasticidade do concreto. 

Como identificar a qualidade do concreto 

A qualidade do concreto é relativa: depende do desempenho esperado do material e, portanto, do local onde ele será aplicado. Por exemplo, um concreto utilizado na fundação é diferente do concreto usado no último pavimento, que não terá nenhum peso em cima. 

É preciso usar o traço correto, ou seja, misturar a quantidade certa de cada material para alcançar as características desejadas (como umidade, por exemplo). Porém, ainda há outros fatores que influenciam, como o clima e a umidade do dia. Em dias mais quentes, a água evapora mais rápido, então é preciso estar atento à proporção água-cimento. Na obra, o concreto é manipulado ainda úmido.  

O que é rastreabilidade do concreto? 

Rastrear é a capacidade de conseguir localizar e acompanhar o ciclo de vida de um material específico: onde e em que momento ele foi produzido, o que ocorreu com o material ao longo do seu uso e acompanhar o que irá acontecer depois.  

É possível rastrear várias informações do concreto, como quem o fez e onde foi produzido, quais os lotes utilizados e o seu traço. Também é preciso mapear o lugar onde ele foi instalado. E, por fim, se ele de fato atingiu a qualidade esperada. Para isso, são enviadas amostras para o laboratório, chamadas de corpo de prova. 

O laboratório irá analisar a Resistência de Compressão (do inglês, FCK – Feature Compression Know) de cada corpo de prova e comparar com o número ideal pré-definido pelo projetista da obra. Assim, ele determina se o concreto era ou não de qualidade. 

Se o material for considerado de qualidade, a obra continua. Caso negativo, é preciso que o próprio projetista avalie se é possível dar andamento com o concreto avaliado ou se será necessário refazer parte da estrutura. É exatamente por isso que é feito o mapeamento de onde aquele concreto foi utilizado. 

Leia também: O que é o Plano de Controle Tecnológico (PCT)?

A rastreabilidade do concreto é realizada para saber se a qualidade ideal foi alcançada, para guiar tomadas de decisões necessárias. Se o concreto for de qualidade duvidosa, após sua cura, podem ocorrer rachaduras, fissuras e até mesmo acidentes com riscos de queda de lajes e óbitos. Nesse sentido, será preciso voltar aos relatórios preenchidos para descobrir o erro. Geralmente, neste caso, o projetista pode ter calculado os traços de forma equivocada ou o engenheiro da obra não seguiu as recomendações técnicas como deveria. 

Como é feita a rastreabilidade do concreto 

Geralmente, o concreto é preparado em uma usina, onde os materiais são pesados em uma balança para chegar ao traço correto. Em seguida, ele é lacrado e recebe uma etiqueta com um código único. Em alguns casos, ele é feito na própria obra. 

Betoneira utilizada diretamente na obra
Betoneira utilizada diretamente na obra 

 

Betoneira utilizada diretamente na obra
Caminhão betoneira que leva o concreto da usina até a obra 

Após ser preparado, o concreto é transportado por um caminhão até o canteiro. Cada um tem um código diferente, levando em conta a betoneira, a data e o traço.  Essa numeração acompanha o produto da usina até o laboratório e é replicada no relatório de rastreabilidade. 

Leia também: 5 desafios de gestão nos canteiros de obra 

Quando chega na obra, o concreto passa pelo “slump test”: um teste rápido realizado logo antes da concretagem para verificar a trabalhabilidade do concreto ainda fresco.  

Slump Test concreto
Slump teste durante fase da rastreabilidade do concreto

Se for aprovado, ele é utilizado nos locais necessários e, em determinado momento, é tirado o corpo de prova para ser enviado para o laboratório junto com o respectivo código. Caso seja reprovado, o concreto deve ser rejeitado e devolvido para a usina. 

O ideal é que o corpo de prova seja feito por uma empresa especializada, mas, se não for possível, o próprio engenheiro da obra pode preparar e deixar sinalizado no relatório. Assim, o técnico diminuirá os coeficientes, aumentando a segurança do resultado. 

Corpo de prova durante rastreabilidade do concreto
Corpo de prova durante fase da rastreabilidade do concreto

A quantidade de corpo de prova por betoneira é prevista nas normas técnicas e determinada pelo projetista, assim como as datas em que eles serão rompidos para análise. O engenheiro da obra precisa acompanhar os resultados entregues pelo laboratório. 

Relatório da rastreabilidade do concreto 

Cada vez que se recebe um caminhão de concreto, é preciso preencher um relatório com o traço, a nota fiscal, a betoneira, a quantidade de materiais utilizados, o aditivo, a data e a hora. Até o tempo em que a betoneira demorou para lançar o concreto é importante ser analisado, pois a água pode evaporar, alterar o traço e influenciar no resultado final e na segurança do material. 

Uma planta do local também é utilizada para mapear onde cada concreto foi utilizado, pintando o desenho com uma cor específica referente ao código. 

No laboratório, é possível controlar a FCK, assim como a resistência para ação, a tração na flexão e até a elasticidade. Tudo depende de onde ele foi utilizado: pontes, por exemplo, tem uma alta movimentação e, portanto, grande vibração. Logo, é preciso saber se a elasticidade do traço condiz com a obra realizada. 

Riscos de não fazer a rastreabilidade do concreto  

O principal risco de não fazer o controle do concreto da forma correta é não alcançar suas características necessárias.  

Segundo Victor Rossini, Coordenador de Engenharia, Suprimentos e Orçamentos na Integra Desenvolvimento Urbano, essa situação pode trazer diversos prejuízos. Por exemplo, o alto custo da necessidade de refazer uma estrutura ou, então, o risco incalculável de uma pessoa perder a vida em um acidente. Para evitar esses danos, não apenas é feito o controle do concreto, mas também é comum trabalhar com coeficientes um pouco acima do necessário. 

Outro fator importante da rastreabilidade do concreto é que, sendo bem feita, o custo de manutenção no pós-entrega é reduzido, evitando o surgimento de trincas, rachaduras, infiltração ou movimentação na estrutura. Apesar da responsabilidade ser do projetista ou do engenheiro da obra, é a construtora e a incorporadora que têm sua imagem abalada frente aos clientes. 

Tecnologias aliadas da construção civil 

Há diversas tecnologias utilizadas na construção civil. É possível usar QR Codes ou códigos de barra para evitar o risco de reescrever, por exemplo, um número errado em um código de relatório. Ou, então, utilizar softwares para digitalizar todo o processo de mapeamento, como uma planta virtual, na qual é possível pintar e escrever de forma digital no tablet ou no celular e, depois, salvar no drive.  

É o caso do novo módulo de Rastreabilidade do Concreto da Construmarket, disponível para o software Construpoint. Nele, é possível digitalizar todo o processo, pintar o mapeamento de forma digital e cadastrar os relatórios em um único lugar sem a necessidade de inúmeros papeis. Além disso, são emitidos alertas para o engenheiro da obra lembrar que naquele dia o laboratório irá liberar o resultado do rompimento de um determinado corpo de prova e, portanto, é preciso acessar o documento. 

Ralph Montelo, Diretor de Produtos da divisão Projetos e Obras da Construmarket, afirma que o novo módulo digitaliza o processo e garante ainda mais controle e organização para a obra.  

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Rossini destaca que, ao digitalizar o processo, é possível evitar erros humanos e o controle burocrático de documentos ou pastas perdidas no final da obra. Além disso, garante o armazenamento organizado da documentação pelo tempo necessário – evitando o uso do papel. 

Outra tecnologia muito importante é o BIM – um sistema de modelagem de uma estrutura, que permite incorporar várias informações sobrepostas. Ao invés de utilizar uma quantidade infinita de papel para documentar os relatórios da rastreabilidade do concreto, é possível preencher todas as informações de forma digital e com fácil visualização. 

Drones com emitidores de frequência de ondas que batem no concreto e voltam também podem ser utilizados no pós-mapeamento da resistência do material. Nas áreas internas, é possível caminhar levando o equipamento de frequência na mão. 

CONCRETO X NORMAS 

O PBQP-H (Programa Brasileiro da Qualidade e Produtividade do Habitat) é um dos programas criados pelo governo para buscar a qualidade, produtividade e segurança nas obras de construção civil. Ele incentiva as construtoras a buscarem as certificações para poderem participar de programas como o Minha Casa, Minha Vida e Minha Casa Verde e Amarela. 

Uma das subdivisões desse programa é a certificação do SIAQ (Sistema de Avaliação da Conformidade de Empresas de Serviços e Engenharia), que visa assegurar a boa gestão da obra: na operação da empresa, nos procedimentos e no canteiro. Assim, ela garante a padronização da produtividade e da qualidade, possibilitando ao consumidor final a certeza de receber o mínimo de qualidade após a entrega do imóvel. 

Para receber essa certificação é preciso seguir as normas do setor, utilizar os materiais certificados, fazer os devidos controles tecnológicos e, claro, fazer a rastreabilidade do concreto da forma correta.  

Outro programa do PBQP-H é o PSQ (Programa Setorial de Qualidade), que foca em cada setor de materiais da construção civil: aço, tubulações de PVC, cerâmicas, concreto, entre outros. 

A norma NBR-618, por exemplo, se refere à execução e controle do concreto, incluindo a quantidade específica de corpo de prova que precisa ser retirado por betoneira.  

Leia também: Certificações e Normas da Construção Civil  

A NBR-15575, também conhecida como Norma de Desempenho, define os desempenhos que devem ser alcançados na obra. O projetista é responsável por definir como essa meta será alcançada. Por exemplo, se o objetivo é construir uma estrutura multipavimento que dure no mínimo 50 anos, será usada uma estrutura metálica junto com a estrutura de concreto, o traço será alterado, a espessura da laje será maior. 

Além disso, não basta apenas alcançar a resistência esperada para o concreto, mas ele precisa seguir todas as necessidades de desempenho: desempenho estrutural, de vedação, térmico, acústico, lumínico, de cobertura, de impermeabilização, entre outros. 

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Leia também: 

O que é Gestão de Obras? 

Construpoint otimiza gerenciamento de obras da Precon 

Confira outros materiais da USP referentes ao concreto 

 


 COLABORAÇÃO TÉCNICA  

Victor Rossini – Formou-se em Engenharia Civil pela Escola Politécnica da USP, posteriormente se especializando em Gestão e Produção de Edifícios, assim como em Planejamento e Gestão de Cidades, ambos pela mesma universidade.

Ralph Montelo – Diretor de Produtos da divisão Projetos e Obras. Formado em Análise e Desenvolvimento de Sistemas e com especialização em Transformação Digital, com 20 anos de experiência na área de TI, sendo 10 deles exclusivamente voltados para a inovação e plataformas para a Construção Civil. Conta também com vivência internacional nos EUA e Alemanha e com atuações em grandes projetos no Brasil e no exterior, nas áreas de processos e garantia da qualidade. 

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